Série "Sede santos" - Sermão: Aquele que precisa ser santificado (Isaías 6.4-7)
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Introdução
Introdução
Irmãos, são tempos difíceis para a Igreja, tempos de um cristianismo guiado por pautas e normas definidas pela sociedade. São tempos em que se você se comporta, ou age, de forma moralmente correta segundo os preceitos da sociedade, certamente você vive debaixo da vontade de Deus, não há nada reprovável em você. A visão de um Deus criado à imagem do homem alimenta, de forma crescente, o conceito do mundo de que ele aceita a todos como são, como pensam e como vivem.
Talvez, o liberalismo teológico seja uma das maiores heresias oriundas dessa visão acerca de Deus no mundo moderno. Os conceitos heréticos desse pensamento invadem as igrejas de forma sorrateira, alimentando-se da incredulidade manifesta nos corações de muitos acerca das doutrinas e verdades manifestas na Palavra revelada por Deus aos homens. Pensamentos que atacam a autoriade das escrituras e que negam a condição pecaminosa do homem e a divindade, senhorio e obra salvífica de Cristo.
O resultado disso, são congregações cada vez mais parecidas com o mundo: vivem como o mundo, pensam como o mundo e, para muitas pessoas, são do mundo. Deus, então, se torna um personagem abstrato que se molda ao indivíduo e à sociedade. As pessoas cada vez mais esquecem quem verdadeiramente é Deus e cada vez compreendem menos a infinita Santidade dEle. Na verdade, o próprio conceito de santidade se torna cada vez mais como apenas um termo em desuso e, progressivamente, parece tornar-se mais antiquado para o ser humano, que vive então na farsa dos homens ao se revestirem do manto da moral social, mas mantêm no íntimo o cerne da condição humana:
Romanos 3.9–12 (RA)
Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito:
Não há justo, nem um sequer,
não há quem entenda, não há quem busque a Deus;
todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.
Os homens cada vez esquecem mais Quem Deus É, tornando-o cada vez mais semelhante ao homem, e, consequentemente, esquecem quem realmente são, tornando a si mesmos cada vez mais semelhantes a divindades. Se o sermão anterior teve por objetivo revelar quem É Aquele que é Santo, o sermão dessa noite tem por objetivo apresentar aquele que precisa ser santificado. Se o sermão anterior teve por objetivo apresentar a Deus, o sermão dessa noite tem por objetivo apresentar a real condição humana.
Contexto imediato e contexto social
Contexto imediato e contexto social
Até então, nos versículos de 1 a 3, vimos toda a descrição vívida acerca da infinita santidade, glória e majestade do verdadeiro Rei do universo, que governa assentado em eu alto e sublime trono, e de como é a vida prática daqueles que vivem diante de Sua face: uma vida de total temor, consagração e serviço. No ano da morte de um rei, aparentemente tão promissor diante dos homens, Isaías viu o verdadeiro Rei.
Entretanto, o povo de Deus parecia viver sem lembrar quem era o Seu Deus, Aquele que com forte mão os libertara da escravidão no Egito e os guiara até Terra Prometida e até o ponto em que se encontravam naqueles dias. Como abordamos no sermão anterior, os relatos dos livros dos reis nos mostram como os reis representavam a condição espiritual do povo. Aqui chegamos ao grande conflito que parece permear desde os relatos de 1Samuel 8.4-8:
1Samuel 8.4–8 (ARA)
Então, os anciãos todos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e lhe disseram: Vê, já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que nos governe, como o têm todas as nações. Porém esta palavra não agradou a Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos governe. Então, Samuel orou ao Senhor. Disse o Senhor a Samuel: Atende à voz do povo em tudo quanto te diz, pois não te rejeitou a ti, mas a mim, para eu não reinar sobre ele. Segundo todas as obras que fez desde o dia em que o tirei do Egito até hoje, pois a mim me deixou, e a outros deuses serviu, assim também o faz a ti.
A descrição que vemos em todo o relato bíblico do Antigo Testamento é um abandono crescente do povo em relação ao Seu Deus. Ao invés de serem um reflexo da santidade de Deus, assim como o são os serafins que habitam na presença de Deus, o povo refletia a pecaminosidade dos reis humanos que estavam diante deles. Em vez escolherem a glória do Reino de Deus, escolheram constantemente a glória dos reinos caídos deste mundo. Eles estavam refletindo o rei errado!
É exatamente esse o retrato do povo de Judá que os cinco primeiros capítulos do livros de Isaías trazem, um povo que cada vez mais se assemelhava ao mundo:
No capítulo 1, Deus acusa seu povo de um total abandono a Ele e seus mandamentos (Is 1.2-4) o que se refletia no culto hipócrita (Is 1.10-14);
No capítulo 2, a acusação é contra um povo que apresentava uma vida de orgulho e soberba que resultava em idolatria (Is 2.6-8);
No capítulo 3, Deus acusa a altivez, sensualidade e imoralidade que as mulheres viviam (Is 3.16);
No capítulo 5, talvez, tenha-se o ápice das acusações até então. O profeta inicia uma série de “ais” acerca do pecado do povo:
“Ai” daqueles que são avarentos a ponto de tomarem as posses dos outros e ajuntam para si (Is 5.8);
“Ai” daqueles que vivem em festas e imoralidades durante seus dias, sem considerar a Deus (Is 5.11-12);
“Ai” daqueles que praticam injustiça e vivem em pecado (Is 5.18);
“Ai” daqueles que praticam o mal achando que trata-se de caminhos de benção (Is 5.20);
“Ai” daqueles que são soberbos e orgulhosos em sua sabedoria mundana (Is 5.21);
“Ai” daqueles que vivem em dissolução de vida e praticam injustiças por suborno (Is 5.22-23).
Esse era o modo que o povo estava vivendo diante da face do Rei Santo, Santo, Santo apresentado nos três primeiros versículos do capítulo 6. Esse é um retrato da condição humana, daqueles que não ainda foram alvos da ação graciosa de Deus e é exatamente a respeito dessa condição que o nosso texto de hoje se inicia.
Divisão do texto
Divisão do texto
Isaías 6.4-5 - A revelação da condição humana
Isaías 6.6 - A graça do Rei em ação
Isaías 6.7 - O Rei Santo que santifica
A revelação da condição humana (Is 6.4-5)
A revelação da condição humana (Is 6.4-5)
Isaías 6.4 (RA)
As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça.
Depois de todo o foco dado ao Rei e aos seus servos, o olhar do profeta volta para si, exatamente para a posição onde se encontra. Aqui parece que só Isaías é afligido pelos efeitos fisicos que se manifestam. O local onde se encontra começa a tremer em consonância ao louvor racional ministrado pelos servos do Rei, porém, nem eles, nem o Rei, são afetados por tal tremor.
Isaías declara que as bases do limiar se moveram (“tremeram”) e o santuário se encheu de fumaça com o louvor à santidade do Rei. O que acontece aqui? Pelo menos outros dois textos nos ajudam a compreender essa passagem (além de Is 6.5). O primeiro deles encontra-se em Êxodo 19.16-22, onde vemos o relato do momento de quando Deus desce ao monte Sinai para falar com Moisés e Arão, logo antes de entregar-lhes os dez mandamentos; diante disso, o monte começa a fumegar, se enche de fumaça e é assolado por grandes tremores, de modo que Deus deixa bem claro que apenas Moisés e Arão deveriam se colocar no monte. Todos aqueles que não fossem consagrados, deveriam se manter longe, para não serem feridos por Deus.
Êxodo 19.16–22 (RA)
Ao amanhecer do terceiro dia, houve trovões, e relâmpagos, e uma espessa nuvem sobre o monte, e mui forte clangor de trombeta, de maneira que todo o povo que estava no arraial se estremeceu. E Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus; e puseram-se ao pé do monte. Todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente. E o clangor da trombeta ia aumentando cada vez mais; Moisés falava, e Deus lhe respondia no trovão. Descendo o Senhor para o cimo do monte Sinai, chamou o Senhor a Moisés para o cimo do monte. Moisés subiu, e o Senhor disse a Moisés: Desce, adverte ao povo que não traspasse o limite até ao Senhor para vê-lo, a fim de muitos deles não perecerem. Também os sacerdotes, que se chegam ao Senhor, se hão de consagrar, para que o Senhor não os fira.
A segunda passagem, que nos ajuda a compreender o que aconteceu aqui, encontra-se em 1Reis 8.10-11, logo após Salomão e os sacerdotes levarem a arca da aliança, que simbolizava a presença de Deus no meio do povo, para o lugar santíssimo. Logo após realizarem os sacrifício, o templo se enche de uma espessa fumaça, de modo que ninguém podia permanecer em seu interior.
1Reis 8.10–11 (RA)
Tendo os sacerdotes saído do santuário, uma nuvem encheu a Casa do Senhor, de tal sorte que os sacerdotes não puderam permanecer ali, para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor enchera a Casa do Senhor.
Nos dois textos, a presença gloriosa de Deus é percebida ou por tremor ou por nuvem de fumaça, ou mesmo ambas, de modo que havia uma separação entre Deus e aquilo que não era santificado. Depois que Isaías vislumbrou a santidade e glória de Deus, houve uma manifestação física da natural separação entre ele e Aquele que é três vezes Santo.
Isaías 6.5 (ARA)
Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!
A palavra “então” que inicia o versículo 5 sugere que a afirmação que será dita a seguir é resultado do fato que Isaías se deu conta dos efeitos de sua separação natural dAquele que é a fonte de toda a santidade. Ele declara “ai de mim!” e talvez esse seja o clímax da revelação da condição humana: no capítulo 5, Deus declarara, através da boca do profeta, uma série de 5 “ais” direcionados ao povo; tratava-se de uma condenação certa da parte de Deus àqueles para os quais as palavras foram direcionadas. Se, no capítulo 5, Aquele que é Santo, Santo, Santo usa o profeta para direcionar condenação aos pecadores, aqui no versículo 5 do capítulo 6, o próprio profeta, ao olhar para sua separação frente à total santidade divina, declara que ele próprio é um dos condenados pelos ais que proferira anteriormente. Frente à infinita santidade de Deus, o profeta sabe que é tão digno de condenação e carente de misericórdia quanto todo o restante do povo.
Ele continua e, agora, não está mais olhando primeiramente para a condição do povo. Frente à santidade do Rei, ele olha primeiramente para sua própria condição. Ele é um “homem de lábios impuros” que habita no meio de um “povo de impuros lábios”. Ele não é um fruto do meio, mas é um integrante dele. A utilização dos termos “lábios” e “boca” representam uma manifestação externa daquilo que é interno ao coração, trata-se de uma representação de uma vida impura diante dAquele que é a própria santidade. Podemos observar isso nos exemplos dos seguintes textos:
Provérbios 18.20 (ARA)
Do fruto da boca o coração se farta,
do que produzem os lábios se satisfaz.
Isaías 29.13 (ARA)
O Senhor disse: Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu,
Tão perigoso quanto o liberalismo, é o legalismo; acharmos que não temos parte na condição do mundo. Não é assim que Isaías se compreende diante do Rei que é três vezes Santo, ele reconhece que compartilha a condição humana de total carência de santidade, de modo que diante dAquele que é a fonte da santidade ele sabe que sua impureza não pode subsistir. Diante de Deus, o homem vê quem verdadeiramente é e não cabe nenhuma reação além de total quebrantamento.
A graça do Rei em ação (Is 6.6)
A graça do Rei em ação (Is 6.6)
Isaías 6.6 (ARA)
Então, um dos serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz;
Depois de se colocar em total quebrantamento diante de Deus (“então”), acontece algo interessante. Isaías parece nem mesmo achar-se digno de misericórdia, ele somente se reconhece como digno de condenação; ele reconhece sua condição de total carência e nem mesmo foge ou se esconde; ele parece ter entendido o tamanho de sua ofensa à santidade de Deus de modo que parece concluir ser totalmente justo que seja condenado. Aqui, talvez ele tenha lembrado da morte dos filhos de Arão, quando se apresentaram diante de Deus com fogo estranho:
Levítico 10.1–3 (ARA)
Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo estranho perante a face do Senhor, o que lhes não ordenara. Então, saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu; e morreram perante o Senhor. E falou Moisés a Arão: Isto é o que o Senhor disse: Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo. Porém Arão se calou.
Depois que os filhos de Arão foram consumidos pela santidade de Deus, Ele inicia uma série de ordenanças para como deveriam se consagrar para adentrar no lugar santíssimo (Levítico 16) no dia da expiação pelo pecado. Somente uma vez por ano, o sumo sacerdote deveria entrar no lugar santíssimo e, para fazê-lo, deveria tirar suas vestes sacerdotais, banhar-se com água e vestir as vestes sagradas de linho e se cobrir de mitra; deveria primeiramente sacrificar um novilho por seus próprios pecados, queimar parte do animal no altar do holocausto e parte fora, bem como levar o sangue para aspersão no lugar santíssimo; de modo similar deveria sacrificar o bode para expiação pelos pecados do povo; depois disso, deveria coletar brasas do altar do holocausto, colocando-as no incensário e pondo o incenso por cima das brasas, o qual queimaria e produziria uma nuvem que protegria o sumo sacerdote em meio a presença santa de Deus. Nesse ponto, provvelmente encontramos o pecado dos filhos de Arão: eles, provavelmente, não queimaram o incenso nas brasas marcadas pelo sacrifício.
Agora, olhando para o nosso texto, refazemos a trajetória do momento em que um homem se colocava diante da presença santíssima de Deus e encontramos alguns problemas que explicam o temor de Isaías: ele não era sumo sacerdote; olhando primeiramente para si, como o sumo sacerdote deveria fazer, ele se reconhece como impuro, não consagrado a ponto de se apresentar diante da presença de Deus; olhando para o povo, como o sumo sacerdote deveria fazer, também reconhecia a total impureza de vida; nenhum sacrifício havia sido prestado por Isaías, nem por ele, nem pelo povo, de modo que não poderia se proteger da presença de Deus através da queima do incenso nas brasas marcadas pelo sacrifício. Que grande terror acometera Isaías diante de todos esses fatos e a contemplação da santidade infinita de Deus! Ele, naquele momento, era como Nadabe e Abiú, estava destruído!
Entretanto, algo maravilhosamente gracioso ocorre; algo que Isaías provavelmente não esperava. Depois que Isaías manifesta um reconhecimento tão sincero de sua condição humana de total impureza diante da santidade divina, a graça do Rei entra em ação. Isaías não pede, mas Deus age em direção ao seu arrependimento por pura graça. Um dos servos reais (serafins) se direcionam ao altar do holocausto, retira uma brasa viva dele e se direciona a Isaías. Da mesma forma que a fonte para queimar o incenso que protegeria o sumo sacerdote diante da presença santa de Deus, aqui, as mesmas brasas retiradas do altar do holocausto, marcadas pelo sacrifício, serão usadas para proteger o profeta
O Rei Santo que santifica (Is 6.7)
O Rei Santo que santifica (Is 6.7)
Isaías 6.7 (ARA)
com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado.
Aqui, talvez, estejamos diante de uma das situações mais singulares dos relatos do antigo testamento. O serafim toca com a brasa viva nos lábios de Isaías e afirma que sua “iniquidade foi tirada” e “perdoado, o teu pecado”. Apesar de muitos acharem que se trata da mesma coisa, aqui “iniquidade” (Awon) e “pecado” (hattat), tratam-se de duas coisas distintas: iniquidade faz referência à culpa e pecado à falha de errar o alvo da santidade, de resplandecer o caráter de Deus. Quando a brasa viva tocou Isaías, a sua culpa foi tirada e o seu pecado perdoado, ou expiado.
Algo fascinante acontece aqui. Primeiro, porque até então, toda expiação exigia sacrifício pelo ofensor, mas aqui Isaías não ofereceu nenhum sacrifício. Segundo, porque a brasa toca a fonte de impureza do profeta e o purifica e santifica. Por quê isso também é fascinante? Porque, segundo o profeta Ageu, não se tratava de um comportamento natural:
Ageu 2.11–13 (ARA)
Assim diz o Senhor dos Exércitos: Pergunta, agora, aos sacerdotes a respeito da lei: Se alguém leva carne santa na orla de sua veste, e ela vier a tocar no pão, ou no cozinhado, ou no vinho, ou no azeite, ou em qualquer outro mantimento, ficará isto santificado? Responderam os sacerdotes: Não. Então, perguntou Ageu: Se alguém que se tinha tornado impuro pelo contato com um corpo morto tocar nalguma destas coisas, ficará ela imunda? Responderam os sacerdotes: Ficará imunda.
O texto de Ageu declara a lógica que pode ser vista em todas as práticas de purificação relatadas no antigo testamento: se algo que foi santificado tocar alguma coisa, não o torna puro; mas se algo impuro tocar alguma coisa, esta ficará impura. Entretanto, quando a brasa viva toca o impuro Isaías, este é purificado. O fluxo se mostra ao contrário. A união entre a representação que essa brasa em chamas traz acerca da santidade divina e sua origem sacrificial, à luz do comportamento intrigante que se apresenta na purificação e santificação do profeta, parece apontar para algo maior, algo que vemos em outro momento da história da redenção. Aponta para o Próprio Cristo!
Quando olhamos para a trajetória de Jesus nos evangelhos, percebemos algo também muito fascinante: Jesus estava a todo instante tocando pessoas impuras, ao invés de se tornar impuro, Ele as purificava! Podemos lembrar de, pelo menos, três momentos miraculosos dos evangelhos:
Quando Jesus toca um leproso e não se torna impuro, mas purifica-o da lepra que tornava aquele homem impuro:
Lucas 5.12–13 (ARA)
Aconteceu que, estando ele numa das cidades, veio à sua presença um homem coberto de lepra; ao ver a Jesus, prostrando-se com o rosto em terra, suplicou-lhe: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. E ele, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E, no mesmo instante, lhe desapareceu a lepra.
Quando uma mulher com fluxo de sangue toca Jesus, não o torna impuro, mas é purificada de sua impureza por Ele:
Lucas 8.42–44 (ARA)
Enquanto ele ia, as multidões o apertavam. Certa mulher que, havia doze anos, vinha sofrendo de uma hemorragia, e a quem ninguém tinha podido curar [e que gastara com os médicos todos os seus haveres], veio por trás dele e lhe tocou na orla da veste, e logo se lhe estancou a hemorragia.
Quando Jesus toca a filha de Jairo, que estava morta, e não se torna impuro, mas purifica-a da morte:
Lucas 8.49–56 (ARA)
Falava ele ainda, quando veio uma pessoa da casa do chefe da sinagoga, dizendo: Tua filha já está morta, não incomodes mais o Mestre. Mas Jesus, ouvindo isto, lhe disse: Não temas, crê somente, e ela será salva. Tendo chegado à casa, a ninguém permitiu que entrasse com ele, senão Pedro, João, Tiago e bem assim o pai e a mãe da menina. E todos choravam e a pranteavam. Mas ele disse: Não choreis; ela não está morta, mas dorme. E riam-se dele, porque sabiam que ela estava morta. Entretanto, ele, tomando-a pela mão, disse-lhe, em voz alta: Menina, levanta-te! Voltou-lhe o espírito, ela imediatamente se levantou, e ele mandou que lhe dessem de comer. Seus pais ficaram maravilhados, mas ele lhes advertiu que a ninguém contassem o que havia acontecido.
É impossível olhar para a purificação e santificação de Isaías e os relatos dos evangelhos e não lembrar da profecia acerca do Servo em Isaías 53.4-6:
Isaías 53.4–6 (ARA)
Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.
Aquele que é o Rei Santo, Santo, Santo se apresentou como Servo nesse mundo. Assim como a brasa viva tirada do altar, Ele é a fonte de santidade e sacrifício que traz Paz entre o conflito inevitável da santidade infinita de Deus e a condição carente de santificação do seu povo. O Servo foi esmagado, moído pelas nossas iniquidades, pela nossa culpa, para que não andássemos mais como ovelhas desgarradas que se desviam pelo caminho, que erram o alvo de serem representantes do caráter de Deus, de sermos santos, mas para sermos purificados e santificados por sua obra.
Conclusão e aplicações
Conclusão e aplicações
Irmãos, algumas conclusões e aplicações de fazem necessárias para as nossas vidas. A primeira delas, que fundamenta o sermão desta noite, é a necessidade de, constantemente, entendermos a condição naural do homem neste mundo. Se não for a ação graciosa de Deus meus irmãos, a condição do homem é de total separação da presença divina. Em nenhum momento podemos deixar que as heresias ou a incredulidade venham nos fazer concluir que está tudo bem entre nosso pecado e a vida diante da face de Deus! Não está meus irmãos, porque “Porque o Senhor, teu Deus, é fogo que consome, é Deus zeloso” (Dt 4.24).
Por isso, meus irmãos, à semelhança dos sumo sacerdotes no dia da expiação, e à semelhança de Isaías em nosso texto, precisamos primeiramente olhar para nossa condição. Vivemos constantemente diante da face de Deus será que temos tido o mesmo temor que Isaías apresentara? Não podemos ser legalistas e achar que por nossas próprias forças somos superiores aos outros, mas, ao contrário, precisamos nos achar como os principais carentes da misericórdia divina.
Não podemos viver diante de Deus no erro de Nadabe e Abiú, os filhos de Arão que em sua prerrogativa de santidade do sacerdócio, se aresentaram diante de Deus na pureza devida; não podemos nos colocar diante dAquele que é três vezes Santo nos achando como santos por nós mesmos, mas ao contrário, devemos nos colocar na posição do profeta Isaías, como contantes servos carentes de santificação. Precisamos olhar para o pecado do mundo e olhar para nós mesmos e clamar: Ai de mim Senhor se não fosse a tua ação graciosa de vir até mim e me purificar para estar em Paz contigo!
A boa notícia irmãos é que pela obra de Cristo, nossa culpa é limpa e nossos pecados perdoados, de modo que a presença divina pode ser percebida, mas não mais por separação, mas pela presença do Espírito Santo em nós e pelo livre acesso ao trono da graça:
Hebreus 4.14–16 (ARA)
Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.
Quando nos colocamos diante de Cristo, através da Sua Palavra, somos levados à segunda resposta para por que precisamos seguir uma vida de santificação: se a primeira resposta, em nosso primeiro sermão, foi porque Ele é Santo, Santo, Santo, a segunda resposta, que obtemos em nosso sermão dessa noite, é que precisamos ser santos porque precisamos ser santos porque somos carentes de santidade, não somos santos por essência como é o nosso Deus. Entender isso deve nos levar a um total quebrantamento pela nossa condição de carência de santidade e total dependência; mas aí somos levados a ver o novo homem que ressuscitou juntamente com Cristo para uma novidade de vida. A santidade de Cristo destrói o velho homem e nos ressuscita para uma vida santa que irradia o Seu caráter junto à toda a criação, de modo que podemos nos apresentar confiadamente diante do trono da graça.
Jesus foi o sacrifício santo! Mas Ele ressuscitou e está diante do Pai como nosso sumo sacerdote, apresentando diante do Pai seu sacrifício permanente e que preenche a lacuna que separava Deus do homem, pelo seu povo, a Igreja invisível, aqueles que são por Ele purificados e santificados, respondendo como aqueles que se livram de toda impureza e se revestem de Seu caráter! Por isso vivamos dessa forma, mortificando o velho homem e nos revestindo do caráter dAquele que é verdadeiramente Santo!